A persistência da memória ‐ relógios, repetições e transformações
Por Eneida Cardoso Braga.
Relógios são quase uma logomarca do trabalho psicanalítico. Talvez só não sejam mais representativos do que o divã, mas juntamente com este, constituem uma imagem bastante utilizada para expressar o trabalho do psicanalista. Na forma caricata da expressão popular, nos programas de humor na TV, no teatro e no cinema, este elemento é explorado frequentemente, por exemplo, em cenas onde alguém fala de si em contraposição à indiferença do analista, que olha impacientemente para um relógio enquanto come seu sanduíche ou faz a lista de compras da semana.
Parece, à primeira vista, bastante contraditório associar tempo a sofrimento psíquico, e o relógio fica como o representante dessa antipática associação. Mas ao contrário desta caricatura, como bem sabemos, a atenção dos psicanalistas à temporalidade não se apoia nesse objeto que cronometra o tempo.
Qual é o tempo que é privilegiado no espaço analítico?